domingo, 25 de setembro de 2011

Sê Rei de ti próprio

Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?
Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra
Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.
Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa



Não é fácil de subentender muito do que Fernando Pessoa diz pelos seus heterónimos, deste poema  gosto especialmente da parte em que ele diz e com alguma razão: não tenhas nada nas mãos, nem memória na alma... ao abrirem-te as mãos, nada te cairá. Eu concordo!

1 comentário:

Shpedro disse...

Parece fácil, mas não é.
A gente tem sempre alguma coisa nas mãos. :)