quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Conversa!

Vê-se com alguma frequência, numa conversa (isto para quem sabe conversar ou sabe o que é uma conversa), que há quem deseje mais dominar pela habilidade de sustentar todos os argumentos do que pelo juízo, discernindo o que é verdadeiro do que o não é; como se houvesse mérito em saber o que pode ser dito e não o que deveria ser pensado.
Há quem prefira mostrar espírito brilhante,  a exercer o tal juízo no de verdade. Alguns têm certos lugares comuns e certos temas em que se mostram bons conversadores, mas são obsoletos na variedade; esta espécie de indigência é quase sempre aborrecida, e de vez em quando ridícula; a parte mais honrosa do colóquio consiste em dar ocasião a novo tema, e também em moderar ou acelerar a transição para assunto diferente; é bom variar, mesclando o assunto de que se está a conversar com argumentos, narrativas com discussões, perguntas com respostas, jocosidades com seriedades; há, porém, assuntos que não permitem brincadeira, nomeadamente a religião, futebol, os negócios do Estado, as altas personalidades, todas as questões de importância para as pessoas presentes, enfim, todos os casos dignos de dó.
Aquele que muito interroga muito aprenderá também, muito contentará também, especialmente se adaptar as suas perguntas aos conhecimentos daqueles que lhe podem responder, dando ocasião de se comprazerem a falar, e ele próprio continuará a ganhar conhecimentos.
Quando por vezes se finge ignorar o que consta que se sabe, para outra vez passa por saber o que ignora!
Falar acerca de si próprio não é bom que se faça com frequência, e há só um caso em que um homem consegue fazer com graça o seu próprio elogio: é quando louva uma virtude que pretende ter. Discrição na conversa vale muito mais do que eloquência, e mais vale falar singelamente com o interlocutor, do que exprimir-se em palavras cadenciadas e altissonantes. Uma conversa bem conduzida, mas sem uma boa réplica do interlocutor, torna-se muito vagarosa. Usar de muitos circunlóquios antes de abordar o tema é fastidioso; não usar alguns significa demasiada rudeza.

Em jeito de conclusão, saber falar, saber conduzir uma conversa e mantê-la  pelo interesse dos intervenientes é o caminho! Na minha opinião quem não a sabe ter não se safa, ou safa-se com quem estiver a esse mesmo nível.. de ignorância. Cada qual vê noutro apenas o tanto quanto ele mesmo é, só pode conceber e compreender a conversa conforme a medida da sua própria inteligência.

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